A importância da geração sanduíche: quem cuida de quem cuida?

Diante de novas dinâmicas familiares que refletem as mudanças dos tempos modernos, a geração sanduíche refere-se aos indivíduos que se encontram entre duas gerações distintas, assumindo o papel de cuidar tanto dos filhos quanto dos pais idosos

Imagine um dia repleto de compromissos, desde uma reunião importante no trabalho até a apresentação do seu filho na escola, consultas médicas para os pais, idas ao mercado e resolução de pendências bancárias, tudo isso enquanto tenta encontrar tempo para cuidar de si mesmo. Isso lhe parece familiar? Provavelmente, você faz parte da geração sanduíche.

O termo foi introduzido no trabalho social e nas comunidades de gerontologia em 1981 pela professora e diretora de estágio da Faculdade de Serviço Social, da Universidade de Kentucky, Dorothy A. Miller e pela diretora do departamento de serviços humanos da Filadélfia Geriatric, Elaine Brody — ambas com artigos publicados na Oxford Academic —, para descrever os filhos adultos que equilibram o cuidado de seus próprios filhos com o apoio aos pais idosos. Esse fenômeno é resultado de diversos fatores, incluindo o aumento da expectativa de vida, adiamento da formação de famílias e da maternidade/paternidade.

Embora a expressão seja mais reconhecida nos Estados Unidos e na Europa, no Brasil, está ganhando relevância, impulsionada pelo aumento da expectativa de vida, que chega a 77 anos, segundo o IBGE. Além disso, o estigma das mulheres como principais cuidadoras ainda persiste.

Essa geração enfrenta desafios emocionais, financeiros e físicos significativos. O estresse de equilibrar o cuidado dos pais idosos com a responsabilidade de criar e sustentar os filhos pode ser avassalador, tornando crucial a busca pelo equilíbrio nessa jornada multifacetada.

Para lidar com esses desafios, os "sanduicheiros" buscam maior segurança e tranquilidade. Isso inclui o uso de serviços especializados, como casas de repouso para idosos, além de contar com uma rede de apoio de familiares e amigos que oferecem um ambiente seguro e acolhedor, permitindo que os cuidadores se dediquem à família e a si mesmos. A geração do meio está cada vez mais consciente da importância do autocuidado e do equilíbrio entre as diferentes áreas da vida. Conheça as histórias de alguns desses "sanduicheiros".

O DESAFIO DA CURA E DO CUIDADO

No turbilhão de acontecimentos que marcaram a vida de Marina Gagliardi nos últimos anos, a única constante tem sido o amor inabalável por sua família. Aos 47 anos, sendo mãe das gêmeas de 16 anos, Julia e Juliana Gagliardi, ela se vê no epicentro de uma trama de desafios e renúncias.

Tudo começou em 2018, quando a mãe, Marilene Gagliardi — ex-bailarina e ex -publicitária —, foi diagnosticada com demência frontotemporal, uma condição que afeta o funcionamento cerebral e, consequentemente, a personalidade e o comportamento. Sua mãe e seu pai, Vinicius Gagliardi, viviam juntos em São Paulo, mas o destino tinha outros planos.

Nesse mesmo ano, um diagnóstico de câncer de pele de Vinicius abalou a família. Marina deixou o emprego de professora de alemão e voou para São Paulo para acompanhar o pai na cirurgia. Felizmente, ele se recuperou, mas isso foi apenas o início de uma jornada repleta de desafios.

Um ano depois, a pandemia da covid-19 chegou e, com ela, um lockdown que complicou ainda mais a vida de Marina. Marilene estava com a demência mais avançada, quando a filha recebeu a notícia de que seu pai havia sofrido um AVC. O desespero e a incerteza a levaram de volta a São Paulo. Vinicius passou por três hospitais, até que a dolorosa constatação da morte cerebral chegou.

Como filha única, enfrentou uma escolha que ninguém desejava. Enterrou o pai e voltou a Brasília com a mãe, que agora está sob seus cuidados. Uma nova dinâmica familiar se formou: além da mãe, ela agora convive com as filhas adolescentes, os seus três cachorros e o seu ex-marido.

Marina decidiu adotar as filhas há 13 anos. A adoção foi tardia, pois as gêmeas já tinham quatro anos de idade, o que trouxe desafios significativos. Ela e o pai das meninas esperaram dez meses na fila de adoção, e, quando chegaram, tinham necessidades imediatas, como a escola. Marina teve que aprender a ser mãe rapidamente, especialmente porque não pôde contar com a mãe para orientação.

Agora, enfrenta a árdua tarefa de equilibrar o cuidado da mãe, que se encontra sob os cuidados de Nilda — a profissional que a acompanha em uma casa de repouso em Sobradinho —, e com os desafios financeiros que essa responsabilidade implica. “A internação também é uma forma de cuidado. Antes, quando minha mãe morava no apartamento dela e necessitava de cuidados, eu tinha um gasto muito grande, inclusive com profissionais que iam cuidar dela. Com a internação, tive uma economia significativa, o que me permitiu dar um respiro e poder resolver melhor a logística da rotina dela e, consequentemente, a minha.”

Marina conta que, às vezes, a resposta é simples: "Não consigo fazer tudo perfeitamente do jeito que sonhei. Para encontrar equilíbrio, conto com minha rede de apoio, que inclui a Nilda, a casa de acolhimento, meu ex-marido, os avós paternos das minhas filhas, os tios e, acima de tudo, minha namorada, que me ajuda a ver o meu valor quando estou duvidando de mim mesma. Também preciso dos meus amigos e alunos para sustentar minha vida e renda”, completa.

A professora reconhece que se tornou uma mãe diferente da sua própria mãe. Ela valoriza sua identidade como mulher e ser humano, não apenas como mãe. Marina percebe que Marilene sempre foi uma mulher multifacetada, interessada em trabalhar, ser esposa, amiga, e nunca se encaixou nos estereótipos tradicionais da dona de casa da sua época. Hoje, passados 13 anos desde a adoção das gêmeas, percebe que se vê como sua mãe na época. E se orgulha disso. “Eu sou a mãe que se priorizou também, pois todos dependem de mim”, enfatiza.

Marina diz que hoje vive uma história de amor digna dos melhores filmes românticos. Após um casamento de 18 anos, tomou a decisão de se separar para viver essa paixão ao lado da companheira, Martha, há um ano. “Eu era hétero até me apaixonar por outra mulher, foi um sentimento avassalador, me descobri bissexual.” Hoje, ela mantém a amizade e uma boa relação com o ex-marido.

A professora destaca a importância de entender que não é possível alcançar a perfeição nos papéis como cuidadores, seja como filhas, mães, profissionais ou mulheres. “A sobrecarga é real e, muitas vezes, a demanda supera nossa capacidade. Precisamos lembrar de cuidar de nós mesmos, priorizar nossa própria saúde e bem-estar e também reconhecer o papel fundamental da rede de apoio que desempenha um papel essencial na vida de muitos cuidadores.”

SOBRE MATERNIDADE

A professora reconhece que se tornou uma mãe diferente da sua própria mãe. Ela valoriza sua identidade como mulher e ser humano, não apenas como mãe. Marina percebe que Marilene sempre foi uma mulher multifacetada, interessada em trabalhar, ser esposa, amiga, e nunca se encaixou nos estereótipos tradicionais da dona de casa da sua época.

Hoje, passados 13 anos desde a adoção das gêmeas, percebe que se vê como sua mãe na época. E se orgulha disso. “Eu sou a mãe que se priorizou também, pois todos dependem de mim”, enfatiza. Marina diz que hoje vive uma história de amor digna dos melhores filmes românticos. Após um casamento de 18 anos, tomou a decisão de se separar para viver essa paixão ao lado da companheira, Martha, há um ano.

“Eu era hétero até me apaixonar por outra mulher, foi um sentimento avassalador, me descobri bissexual.” Hoje, ela mantém a amizade e uma boa relação com o ex-marido. A professora destaca a importância de entender que não é possível alcançar a perfeição nos papéis como cuidadores, seja como filhas, mães, profissionais ou mulheres.

“A sobrecarga é real e, muitas vezes, a demanda supera nossa capacidade. Precisamos lembrar de cuidar de nós mesmos, priorizar nossa própria saúde e bem-estar e também reconhecer o papel fundamental da rede de apoio que desempenha um papel essencial na vida de muitos cuidadores.”

CUIDADORA POR VOCAÇÃO

Nascida em Castanhal (PA), Iranilda Gonçalves Sousa, a Nilda, tem 48 anos, é mãe de três filhos adultos, divorciada há oito anos e mora em Luziânia (GO). Em sua jornada de amor e cuidado, cria o neto de 15 anos e dedica-se à mãe de 72, cujo corpo guarda as marcas de um AVC, deixando o lado esquerdo inerte.

Com determinação, começou a erguer uma construção — nos fundos da casa —, para que a mãe pudesse morar. Ela conta que conclui a morada pavimentando o caminho com pisos e preces. A idade avançada da mãe é tingida pela sombra da enfermidade, tornando-a dependente de cuidados, como a preparação das refeições.

A tarefa de cuidar recai sobre os ombros de Nilda, que lidera essa missão. Há cerca de dois anos, passou também a cuidar de Marilene Gagliardi na casa de repouso em que trabalha. “A Marilene é como uma mãe, eu a amo muito. É como se fosse um presente que eu ganhei. Aprendi muito com ela, porque a Marina me ensinou mais. Pude ver o carinho que a Marina tem com a mãe dela e isso me motivou a cuidar da minha”, conta.

Nilda relembra que, outrora, sua mãe encontrava amparo em sua irmã, em São Paulo. Contudo, com a mudança para as redondezas do DF, um novo capítulo se desenhou em sua vida. Foi nesse contexto que ela cruzou o caminho de Marilene. O começo dessa conexão coincidiu com o início de Nilda em sua jornada de cuidados no âmbito do home care. Ela passou a dedicar seu tempo e carinho a Marilene, três vezes por semana. Um ano se passou, e assumiu a responsabilidade do cuidado integral. “Eu já tive outras ocupações, mas gosto mesmo é de cuidar.”

MÚLTIPLOS PAPÉIS

Maristela Mariano, 52 anos, é educadora social no CAIC Santa Paulina, no Paranoá. Ao lado do companheiro há 33 anos, Walter José, motorista de aplicativo de 55 anos, cria os filhos, Walter Neto, 29, Ramon, 22, Bárbara Sofia, 14 e Pietro, 7. Ela enfrenta o desafio de equilibrar as necessidades de gerações distintas com a responsabilidade de amparar os sogros, Zilma Vasques de Oliveira, 82, acometida pelo Alzheimer, e o sogro, Walter José Batista de Oliveira, 85, que, ainda lúcido, tem a compreensão fragmentada.

Equilibrar os cuidados com os sogros, a atenção aos filhos, a manutenção do lar e o compromisso com a profissão, em simultâneo, é uma tarefa que drena a energia de Maristela. Tudo isso aliado aos sintomas da menopausa, que teimam em diminuir sua motivação. "Meu sogro, por conta da idade avançada, não consegue compreender a dinâmica social no ambiente familiar, mas tenho muita ajuda dos meus filhos e do meu marido nos afazeres domésticos."

Para se erguer frente ao desafio, Maristela busca auxílio e considera a redução da carga do trabalho, enquanto encontra sustento na religião. "Garanto o sustento com a minha profissão. Em relação aos meus filhos, à minha casa e aos meus sogros, fui moldando a vida aos poucos, de tal forma que consigo seguir adiante."

Maristela também revela o desejo de adquirir um hobby ou alguma atividade para se distrair e relaxar a mente e o corpo. Como educadora social, é responsável por desenvolver diversas atividades educativas, culturais e de inclusão social com crianças em situação de vulnerabilidade ou risco social, e enfatiza que, nesses momentos, se permite sorrir.

SOBRECARGA NAS MULHERES

A realidade da geração sanduíche reflete as mudanças sociais e demográficas atuais. Dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio Contínua (Pnad Contínua) do IBGE revelam que as mulheres continuam a dedicar, em média, 9,6 horas a mais do que os homens aos afazeres domésticos e ao cuidado de pessoas em 2022, embora tenha havido uma pequena redução em relação a 2019. A desigualdade persiste mesmo entre os trabalhadores, com as mulheres empregadas dedicando, em média, 6,8 horas a mais do que os homens ocupados a essas tarefas.

A pesquisa também revela variações na realização de afazeres domésticos com base no nível de instrução, sendo mais alta entre as mulheres pretas. Além disso, a taxa de cuidado de pessoas diminuiu, com menos cuidado de crianças e mais cuidado de adultos e idosos. No entanto, houve um aumento no trabalho voluntário, com 7,3 milhões de pessoas envolvidas em 2022, representando um crescimento nas cinco grandes regiões do país.

A analista do IBGE Alessandra Brito explica que a taxa de realização desses cuidados se diferencia conforme o sexo: 34,9% das mulheres e 23,3% dos homens, em 2022. “Essa redução pode estar relacionada à diminuição da necessidade do cuidado com crianças, devido à menor fecundidade na pandemia. Ou pode estar ligada ao aumento da ocupação no mercado de trabalho em 2022, reduzindo a disponibilidade das pessoas para o cuidado.”

SOB UM OLHAR EXPERIENTE

Otávio Nóbrega, docente da Universidade de Brasília (UnB), campus Ceilândia (FCE), enfatiza a necessidade de políticas nacionais de apoio a cuidadores familiares de idosos, incluindo estratégias não medicamentosas, como o convívio intergeracional e programas de acompanhamento domiciliar para combater a depressão e a solidão entre os idosos. Ele recebeu o Prêmio Prof. Dr. Renato Maia Guimarães, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG-DF), em 2022, por sua dedicação à gerontologia e seu trabalho no Conselho de Direitos do Idoso da Secretaria de Justiça do DF.

O professor destaca que estratégias não medicamentosas, como o convívio intergeracional e programas de acompanhamento de idosos, são eficazes para combater a depressão e promover o bem-estar dos mesmos e enfatiza que a sobrecarga mental da geração de meia-idade, que cuida de crianças e idosos, pode levar a conflitos internos, ansiedade e angústia.

"Uma política nacional de cuidados que inclua remuneração para cuidadores familiares é urgente, com a provisão de benefícios para cuidadores que atendem a idosos frágeis, demenciados ou com necessidades especiais. Abordar essa discussão é crucial devido à crescente demanda por cuidados intergeracionais e suas implicações na vida familiar e na sociedade em geral."

O especialista explica que a depressão é uma condição séria que afeta a saúde geral dos idosos e requer atenção quando manifesta sinais como perda de prazer, falta de vontade para realizar atividades básicas e negligência de autocuidado.

INVERSÃO DE PAPÉIS

A vida, em certos momentos, inverte papéis e muda perspectivas. Pais, por uma questão natural, cuidam dos filhos e ensinam sobre o mundo. Mas, à medida que o tempo passa, os filhos tornam-se responsáveis por dar amor, carinho e dividir as tarefas da vida adulta com os familiares. Essa é a realidade de Rafael Martins, 38 anos, que cuida de Antonio Martins, 82, desde julho de 2021, depois de o pai ter sofrido uma queda na rua.

"Ele foi diagnosticado com fraqueza e sarcopenia. Antes, sempre me mantive por perto. Na época, ele já estava com 80 anos, mas gostava de manter sua independência, então o visitava com regularidade para ver se estava tudo bem. Posteriormente, descobri que ele não se alimentava direito por acreditar que não precisava mais fazer a própria comida. Alimentava-se com besteiras, produtos industrializados, como pão, bolachas, café, leite e a cerveja, que era sagrada", detalha Rafael.

Em fevereiro de 2022, a saúde do pai ficou ainda mais complicada. Depois da internação para tratar da covid-19, Antonio sofreu um infarto e teve um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico, que deixou paralisado todo o lado esquerdo de seu corpo. Atualmente, a rotina precisa de cuidados, já que a falta de mobilidade impossibilita certas atividades.

"Eu o levo com regularidade para consultas médicas. Hoje, ele aguarda vaga para começar a fazer sessões de fisioterapia, cirurgia para catarata, tem acompanhamento on-line de uma geriatra que se sensibilizou com o caso dele e se ofereceu para ajudá-lo, tem acompanhamento de psiquiatra pelo SUS. Cuido da alimentação dele juntamente com uma amiga, que é nutricionista, e faço exercícios de mobilidade e estimulação física e sensorial na área afetada pelo AVC, além de dar todo o meu amor", conta Rafael.

AMOR E SACRIFÍCIOS

A infância de Rafael não foi fácil por vários motivos. Entre eles, o fato de ter passado mais de 10 anos no orfanato. O pai, na época, enfrentou algumas adversidades e passou a morar na rua. Para que o filho não vivenciasse o mesmo sofrimento, resolveu abdicar da convivência familiar para que ele e o irmão crescessem de forma diferente. Com isso, a paternidade nunca foi um dos objetivos de Rafael.

Entretanto, descobriu no cuidado com o pai uma outra maneira de enxergar esse contexto. "Conhecendo a realidade de tantas crianças abandonadas, você acaba refletindo muito sobre essa questão. Prometi a mim mesmo que só teria filhos caso tivesse uma vida e uma família bem estruturadas", afirma. Rafael tem formação técnica em coquetelaria e atua como barman por 15 anos.

"Abdiquei de toda a vida que eu tinha. Depois do AVC, ficou inviável continuar com o trabalho, uma vez que ele ficou incapacitado de suas atividades básicas. Larguei o trabalho e passei a me dedicar a ele de forma integral. Nossa história de vida pesou em favor de mantê-lo aos meus cuidados. Fui criado em um orfanato, longe dele, e não quis que essa história se repetisse do lado inverso, pois senti que ele não suportaria, depois de tudo que já vivenciou", comenta.

Cuidados, rotina e afeto. Esses três elementos, em vídeos postados quase diariamente, atraiu um número gigantesco de pessoas para as redes sociais de Rafael (@rafafdmartins). Somando todas as plataformas, são quase 700 mil seguidores. A virada de chave, de acordo com ele, aconteceu no fim do ano passado, quando os dois fizeram uma filmagem desejando um feliz ano-novo.

A SAÚDE MENTAL DO CUIDADOR

Lucas Benevides, psiquiatra e professor de medicina do Ceub, afirma que a saúde mental do cuidador precisa ser olhada com atenção. “Eles podem enfrentar estresse crônico devido às demandas conflitantes de tempo, recursos financeiros e energia emocional, levando a sentimentos de exaustão, culpa, ansiedade e depressão. Além disso, essas responsabilidades podem limitar as oportunidades de autocuidado e lazer, o que é essencial para o bem-estar mental”, descreve Lucas.

Para redefinir papéis e cuidados, é importante estabelecer limites saudáveis e buscar um equilíbrio entre as responsabilidades de cuidar dos outros e de si mesmo. Isso, na visão do psiquiatra, pode envolver delegar tarefas, buscar apoio de irmãos ou outros familiares, e considerar opções de cuidado externo ou assistência profissional para os pais idosos, quando necessário.

Os jovens e adultos da geração sanduíche podem sentir o peso dessas responsabilidades de maneira particularmente intensa, pois estão em um estágio de vida em que também estão construindo a carreira, a famílias e a segurança financeira. “Isso pode resultar em uma maior vulnerabilidade a problemas de saúde mental devido ao estresse acumulado e à falta de tempo para o autocuidado e o desenvolvimento pessoal”, completa Lucas.

Lucas propõe algumas estratégias nessa busca por apoio emocional, o que inclui apoio profissional — terapia ou aconselhamento pode ajudar a gerenciar a realidade sem abandonar seus sonhos —; participação de grupos de apoio para compartilhar experiências e estratégias de enfrentamento; priorização de atividades que promovam o bem-estar, como exercícios físicos, hobbies, trabalhos manuais e momentos de criatividade.

Também é importante aprender sobre novas habilidades, principalmente para alternar o papel de cuidador com o de aprendiz. O psiquiatra aconselha ainda considerar ajuda externa ou serviços de cuidados para aliviar algumas das responsabilidades diárias e dialogar abertamente com a família sobre as necessidades e limitações, para dividir responsabilidades de maneira justa e realista.

ALDEIA DE CUIDADO

Ao equilibrar essas estratégias, o médico acredita que os cuidadores da geração sanduíche podem encontrar maneiras de gerenciar melhor suas múltiplas responsabilidades sem comprometer sua saúde mental. “A ideia da aldeia de cuidado é uma metáfora que ilustra a necessidade de uma rede de apoio para quem cuida de familiares idosos. Essa rede pode incluir familiares, amigos, vizinhos, profissionais de saúde e serviços comunitários.”

Reconhecer a importância da aldeia de cuidado e trabalhar ativamente para cultivá-la pode fazer uma diferença substancial na qualidade de vida do cuidador e do idoso. Realizar a distribuição de carga, buscar apoio emocional e prático, ter resiliência e não se isolar são tarefas a serem feitas. Isso, segundo Lucas, pode garantir melhores resultados nessa rotina.

COMO FORMAR A ALDEIA DE CUIDADOS

- Comunique claramente as necessidades e os limites.

- Encoraja a participação de diferentes membros da família e amigos.

- Utilize recursos da comunidade, como programas para idosos, centros de dia e serviços de apoio domiciliário.

- Estabeleça parcerias com profissionais de saúde para garantir um plano de cuidado holístico e informado.

- Agradeça e reconheça a ajuda recebida, fortalecendo assim os laços da aldeia de cuidado.

Fonte, Lucas Benevides, psiquiatra e professor de medicina do Ceub

OUTROS DESAFIOS

Bem mais que os desafios na saúde mental, outro empecilho aparece na rotina daqueles que estão inseridos dentro da geração sanduíche. A parte financeira, certamente, se apresenta como um dos maiores obstáculos. Economista e diretor da Ativo Investimentos, Diego Hernandez avalia que o planejamento familiar é extremamente importante, independentemente da renda do indivíduo. Faz-se necessário anotar todos os gatos, por menores que sejam, as despesas fixas e as variáveis.

“Se necessário, recorra a aplicativos, planilhas e tabelas que possam te auxiliar a ter uma visão mais clara do direcionamento da sua renda a curto e também a longo prazo. É importante saber quais são as prioridades financeiras da família. Concentre-se nas necessidades mais urgentes. É essencial planejar a sua rotina. Ao cuidar de idosos e crianças, a dificuldade vai além da financeira, então saiba exatamente o que precisa fazer no dia a dia e na semana, para que ninguém fique desamparado”, recomenda Diego.

O ideal, segundo o especialista, é que essa programação seja feita ao longo da vida do indivíduo. Quando o assunto está relacionado à longevidade com qualidade de vida, cada esforço para tentar poupar um percentual do salário vale a pena.

Vale, também, incentivar um estilo de vida saudável e a prática de atividades físicas na família, o que pode ajudar a reduzir os custos com despesas médicas no longo prazo. Uma vez que esse planejamento não tenha sido feito, a família precisa se unir e buscar uma rede de apoio para conciliar os cuidados junto com a manutenção de renda para o lar.

O acesso a programas sociais de distribuição de renda, como Bolsa Família, Auxílio Gás, tarifa social de energia elétrica e água, além de benefícios regionais, são opções a serem buscadas. “Esteja ciente dos programas de assistência social ou de saúde pública que possam oferecer suporte financeiro. Dependendo da região, podem haver programas para famílias de baixa renda, idosos ou crianças”, acrescenta Diego.

Fonte: Correio Braziliense

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