Como incluir os idosos que têm restrições nas festas de final de ano

Doenças, desavenças, mobilidade reduzida ou internação em geriatrias não impedem as celebrações em família

A reta final do ano e as festas de Natal e Ano-Novo podem evocar perdas e acarretar sentimentos negativos, somadas a dificuldades impostas pelo avançar da idade. Idosos que enfrentam quadros de depressão e demência, além daqueles com mobilidade reduzida ou que vivem em instituições de longa permanência, podem participar das celebrações. O ideal é promover algumas adaptações para que essas pessoas possam se integrar mais facilmente.

Expectativas que não se realizam podem intensificar o sentimento de frustração. É importante que filhos, netos e demais familiares não concentrem apenas no mês de dezembro as visitas a idosos que moram sozinhos ou estão institucionalizados. A enfermeira Janaina Rosa, especializada em Saúde do Idoso e atendimento domiciliar, coordenadora técnica da Home Angels Brasil, franquia de cuidadores de idosos supervisionados, comenta que não é incomum que um idoso passe um ano inteiro sem receber certos visitantes.

— Muitas vezes, os familiares moram longe, não conseguem ir visitar, passam o ano todo sem contato. Principalmente familiares mais jovens, com rotina mais apertada ou que não conseguem encaixar a visita na agenda pela distância. A expectativa é de que, no Natal, essas pessoas vão aparecer. Quando isso não acontece, gera no idoso uma sensação de não pertencimento, de negligência, de ser deixado de lado — observa Janaina.

No caso de idosos que moram em geriatrias, estão acamados ou hospitalizados, o planejamento terá de ser maior. Programar visitas e antecipar o horário da ceia ou da troca de presentes são iniciativas que podem ajudar a incluir quem está distante ou com muitas limitações. No caso de cadeirantes, os anfitriões têm de verificar e garantir a acessibilidade.

Para as pessoas que sofreram perdas significativas no último ano, como a morte de cônjuge, filhos ou irmãos, e estão tristes ou deprimidas, as datas festivas são desafiadoras. É importante que os familiares sejam empáticos e promovam o acolhimento.

— Incluir está justamente nisso: mostrar que a gente está aqui, que a gente continua. Mostrar que eles podem partilhar essa dor, que estamos escutando, que vamos lembrar da pessoa que morreu, comentar coisas que ela ensinou. A dor não vai embora e pode até aflorar naquele momento. A melhor maneira de celebrar quem se foi é mostrando que aquela pessoa continua dentro da gente — diz a psicóloga Raquel Saling Guglielmi, especialista em psicologia clínica.

A sugestão de Raquel é para que se faça um esforço para superar desentendimentos e brigas, aproveitando-se o clima de confraternização da época. Colocar-se no lugar de quem errou é um exercício útil para as ocasiões que exigem relevar e perdoar erros.

— Pode ter sido uma hora ruim daquela pessoa. Ela pode ter perdido a mão na condução de uma situação. Também corremos esse risco. Meus pais e avós não são pessoas perfeitas, eu também não sou. Estamos todos aprendendo. Talvez, em algum momento, eu também tenha dito alguma coisa que incomodou alguém. Vamos convidar essa pessoa (para a festa), entender o que podemos aprender com ela. Podemos dar também aquelas várias outras chances que gostamos de ter na vida — orienta a psicóloga.

Como recomendação geral, Raquel sugere que não se idealizem demais essas datas festivas.

— "Tenho que estar feliz porque é Natal, "tenho que estar vibrando porque é Ano-Novo", "meu Ano-Novo será péssimo porque vou passar pela situação x". Começa a ficar muito doloroso. É preciso deixar o momento mais leve, ainda que você não goste da data. Fazer um carinho na gente mesmo. O dia 1º de janeiro é muito parecido com 1º de agosto ou 1º de março. Nossa natureza não tem conhecimento de um calendário. Vamos pegar leve com a gente mesmo e com as pessoas na nossa volta — alerta a especialista.

ADAPTE-SE ÀS DIFERENTES SITUAÇÕES

- Informe-se sobre o estado geral de saúde e as necessidades da pessoa que será recebida em sua casa.

- Altere o mínimo possível das rotinas de sono e alimentação do idoso.

- Inclua o convidado, de fato, na programação familiar. Peça a opinião dele, pergunte quais são suas preferências, se está confortável, se quer descansar. - - Oferecer espaço e tempo de privacidade é fundamental.

- Crie um ambiente acolhedor, iluminado, com memórias afetivas e músicas que contemplem o gosto do visitante.

- Evite passeios a locais com superlotação, longas filas ou ruídos. Prefira experiências mais tranquilas.

- Se necessário, faça combinações antes das festas: ninguém tocará em determinado assunto que causa desconforto ou conflito, por exemplo.

Fonte: Zero Hora

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