O Censo Demográfico de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou o rápido envelhecimento da população do país. Os brasileiros com mais de 60 anos já somam 32,1 milhões de pessoas, o que representa 15,8% da população. Subindo a linha de corte para 65 anos, são 22,2 milhões de habitantes, ou 10% da população total do país (203 milhões).
Na outra ponta, o número de pessoas abaixo dos 30 anos caiu 5,4 pontos percentuais. Em 2022, a população com 30 anos ou mais passou a representar 56,1%.
Quando anunciou os dados do Censo, o pesquisador do IBGE Gustavo Fontes atribuiu essas alterações nos grupos etários a um "reflexo da acentuada diminuição da fecundidade, que vem ocorrendo no país nas últimas décadas e que já foi mostrada em outras pesquisas do IBGE".
Para a terapeuta ocupacional e pesquisadora em envelhecimento da Universidade de Brasília (UnB) Grasielle Tavares, o Estado não está preparado para essa mudança no perfil populacional no país. "Essa questão apontada pelo Censo é algo que nós trabalhamos na gerontologia e na geriatria e já está sendo avisada há muito tempo".
"Isso vai se tornar um problema muito grande. Realmente, as políticas públicas não estão acompanhando, são pouquíssimos os investimentos. É uma das áreas governamentais que tem o menor investimento, e sofre com a demora na construção das políticas. É preciso pensar em como viver melhor, já que estamos com a possibilidade de viver até os 90, 100 anos. O número de centenários é muito grande agora e vem crescendo bastante", comentou a pesquisadora.
Presidente da Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa da Câmara, o deputado Aliel Machado (PV-PR), de 34 anos, afirmou ao Correio que os dados do Censo revelam uma "situação alarmante" para a população idosa do Brasil.
"Enquanto a dependência dos jovens está diminuindo, observamos um aumento preocupante na dependência entre os idosos. Esses números destacam a urgência de ratificar a Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos dos Idosos, concluída em 2015, mas que ainda aguarda aprovação no Congresso brasileiro", disse o deputado.
APELO AO PAPA
Essa convenção é um tratado assinado pela Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), em meados de 2015, com o propósito de promover, proteger e assegurar o reconhecimento de todos os direitos humanos e liberdade fundamentais dos idosos. Machado contou que houve até mesmo um apelo da comissão ao papa Francisco. Em setembro, integrantes do colegiado estiveram com o líder católico, em Roma.
"A gravidade da situação é tanta que, em setembro, membros da Comissão do Idoso se reuniram com o papa Francisco, que expressou sua preocupação e enfatizou a necessidade de políticas públicas que melhorem a qualidade de vida dessa população", observou o parlamentar.
As mulheres são maioria entre as pessoas com mais de 60 anos — 17,8 milhões. Os homens, nessa faixa etária, somam 14,2 milhões de habitantes.
No atual governo, o secretário Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), Alexandre da Silva, manifestou-se em nota sobre o resultado do Censo. Para ele, "esses dados ratificam o contínuo processo de envelhecimento da população brasileira".
Ex-secretário adjunto nacional do Idoso no governo de Jair Bolsonaro, o hoje deputado federal Paulo Fernando (Republicanos-DF) observou que, na gestão passada, foi criado o programa Envelhecimento Ativo e Saudável, que mantinha convênio com prefeituras e programas de informática. Ele defende que ações como essas sejam replicadas em todo o país. Titular da comissão do idoso da Câmara, ele chama a atenção para a estimativa de que entre 25% e 30% do eleitorado, em breve, será composto por idosos. A comissão discute com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma maneira de ampliar o tempo de votação do idoso na urna eletrônica.
"Por conta da idade, o idoso tem mais dificuldade no momento de digitar o número de um candidato na urna eletrônica. Assim, o voto acaba sendo nulo ou indo para a legenda de um partido, não expressando a real vontade desse eleitor", disse Paulo Fernando.